Eu enterrei minha filha mais nova.
Era para ser o contrário. Era para ela me enterrar.
Era para ser o contrário. Era para ela me enterrar.
Mas não foi assim. Eu a enterrei.
Eu a enterrei. Segurei seu corpinho morto no meu colo. A coloquei em um caixão e deixei que a baixassem a terra. Minha filha caçula.
Sua mãe e a Hayden disseram que eu deveria dar uma chance a esse caderninho. A verdade é que sempre fui horrivel com palavras. Dá para perceber que até para começar a carta foi dificil. E você sabia disso. Era uma das coisas que só você percebia.
Mas você percebia tudo. Sabia quando estavamos bem e quando estávamos em crise, mesmo antes de anunciarmos algo. Não sei como você fazia isso. Nunca pensei em perguntar. Devia ter feito. Você perguntava. Era sempre tão curiosa, tão observadora. Tão sonhadora. Queria saber de tudo. Será que foi por isso que você se matou? Curiosidade? Nào, não acho que seria por isso…
Agora que você se foi, tenho me agarrado a cada pequena lembrança, cada fiapo de memória seu que posso. Seu nascimento. Festas de aniversário. Brigas e broncas. Você e sua irmã brincando no playground. Às vezes, suas memórias se confundem com as dela. Me pergunto se ela percebe quando eu a abraço por alguns segundos a mais que o necessário.
Vocês gostavam de brincar de princesas. Por isso eu te chamava de minha princesinha. Deus, como eu lembrei disso?! Será que você lembrava? Provavelmente não.
Filha, sinto sua falta. As coisas estão muito diferentes sem você por perto. Cada um de nós perdeu uma parte de si. Eu posso afirmar: uma parte de minha foi arrancada. Uma parte que nunca poderei recuperar. Uma grande parte minha.
Papai te ama.
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